sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O QUE FAZEM OS MENINOS...


[GRAVANDO]
Tempo.
É chegada a hora de mais uma virada.
Estou cansado!

O número muda, os rituais são os mesmos!
O lugar é diferente, a paisagem se repete.
Estou correndo em círculo!

Fugi daqui um tempo.
Senti que esse espaço estava se tornando o mesmo.
Fugi da minha fuga.

Imagino como será o futuro que não tenho.
Talvez nunca o tenha porque o futuro é o inatingível!
Estou sem imaginação!

Invento um presente em forma de futuro.
Refaço o passado como se ele fosse um presente, eterno!
Tempo.

2010 fará parte desse passado...
Enquanto ainda é meu presente, faz de mim TITÃ.

Fui gigante ao me conhecer simples.
Fui vitorioso ao me conhecer frágil.
Fui vilão ao me conhecer cênico, cínico, feliz.
Fui pleno ao me conhecer vazio.
Fui certeiro ao me conhecer errante.
Fui diferente ao assumir que meninos também choram.

Preciso de um tempo para que nos vejamos em breve.
Talvez seja isso que muita gente chama de futuro.
Se o nome disso é 2011... Até lá!
[CORTA]

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

THE ORIGIN OF LOVE

[GRAVANDO]
"I put some make up. Turn on the tape deck..."
Já vi muitas histórias de amor. Vivi poucas, mas intensas, pelo menos pra mim! Cada uma delas representava, no momento em que aconteceram, o tal centímetro enfurecido tão famoso quanto a lendária Hedwig, que traduzia em Rock and Roll um dos sentimentos mais humanos que existem. É humano porque é errante e é exatamente por ser errante que é tão precioso: nos dá a chance única de conhecer o que é não ter limites, não ter controle, não ter pudor, não conhecer nem a si mesmo. No fundo no fundo, ele nos dá a chance de conhecer o que há de mais brega em cada um de nós. Falamos inverdades, choramos ao som de Ana Carolina, morremos para o mundo e a música sertaneja passa a fazer todo sentido... Quando tempo passa, a gente olha pra trás e compreende a inocência do que foi vivido, o melodrama do que foi chorado e o porquê de alguns fins de capítulo da vida. O que nunca foi possível saber é se o amor é eterno. Pessoalmente acho que sim e fico com Rita Lee, que canta: "nada tem fim, as coisas só se transformam". A paixão se apaga, diminui de intensidade e é justamente aí que entra a dedicação e a vontade de fazer a primeira grande transformação que é encarar o que há de mais apaixonante no outro, longe dos contos de fada, dos ideais de perfeição: encarar o outro ser humano com seus pacotes de ônus e bônus. Difícil né? Isso não foi descoberta minha. Foi uma tal Hedwig quem me contou esse fim de semana aqui no Rio... Ela ainda tá por aqui. Vai lá!
[CORTA]

terça-feira, 19 de outubro de 2010

TÔ "FUNDIDO", MAS SOU OSSO DURO DE ROER!

[GRAVANDO]
Eis a chance de homenagear uma grande amiga, dona não só de um dos blogs mais sensíveis que já acessei http://www.tudofundido.blogspot.com/, mas principalmente dona de uma das almas mais sensíveis que conheço. Ando numa correria só! A data do último post diz muito sobre isso. Em pleno fervo eleitoral, fui sinônimo de uma palavra que eles [os políticos] conhecem pouco: trabalho. Falando em política... ih! lá vem ele! Nada disso. Não vou traduzir em 13 e, tampouco, em 45 palavras o que penso sobre o segundo turno das eleições no Brasil, mas falando em "Tudo Fundido" lembrei das escolhas que a gente faz. No domingo eu fiz uma muito feliz. Fui ao cinema, assistir Tropa de Elite 2. Fui em companhia agradável e inteligente. Saímos de lá perplexos. Cada um com seu referencial, cada um com seus motivos para tal. A vontade que eu sentia era de tomar o primeiro táxi que aparecesse e ir direto pro galeão, mas como ainda não se vende passagens para outros planetas por lá... decidi voltar pra casa, ali pertinho do cinema, ainda sob efeito de uma das críticas politíco/econômico/cultural mais felizes dos últimos anos do cinema nacional. 3 milhões de espectadores até o momento. Esse filme devia ser visto por todos nós brasileiros, que precisamos a cada dia levantar da cama e repensar nosso papel na sociedade e o quanto alimentamos o tal "sistema" com as nossas micro-corrupções. Sim. Também digo isso pra eu mesmo ouvir. Criticamos os políticos corruptos, mas não é difícil nos encontrarmos dando um agrado para o guardinha pra se livrar da multa de trânsito e por ai vai... Mas isso ai, cada um que resolva com seu próprio Capitão Nascimento.
[CORTA]

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

[..."FELIZ" ANIVERSÁRIO...]

[GRAVANDO]
Ai que medo! Nem sei se deveria escrever um texto, assim... "hoje". Na verdade tenho alguns motivos pra fazer isso. O primeiro deles é que o "hoje" é a minha única garantia. Cada respiro, cada milésimo de segundo de vida é uma dádiva, um presente que me é dado. Quase nunca lembro de pensar sobre isso, agradecer então? Mas no fundo é sempre assim... as coisas mais simples, as que estão mais a nosso alcance, são as que mais costumamos deixar pra depois, então, como escrever aqui é uma delas... mãos à obra! Onde é que eu tava mesmo...? Ah! nos motivos pra escrever hoje. O segundo motivo é porque hoje é sexta-feira 13... e nem pensem que estou escrevendo pra falar do filme, dos mitos sobre o dia de "hoje" ou do temido mês de agosto. Hoje faz um ano desde o primeiro post desse blog. Na verdade, ele não tem uma data fixa de aniversário, mas nasceu exatamente numa sexta-feira 13 (em fevereiro de 2009) e desde então... espera ansioso por uma nova data. Ao longo do caminho, esse blog já se transformou em tanta coisa... Na verdade mesmo, acho que ele foi se "destransformando" e, pra fazer jus ao dia do niver, nada mais "Sexta-Feira 13" que isso, não é? Hoje ele é só um desabafo... e certamente só é visitado por quem gosta de desabafar também, de colocar pra fora, de se descobrir errante em cada nova esquina da vida. Humm... nem vou cantar parabéns pra você. Será que os convidados virão? Por enquanto, fico por aqui mesmo, apago a luz e espero a próxima surpresa dessa imprevisível estrada da vida. Se tiver condições de encarar os próximos aniversários, convidados e desconvidados que cruzarem o caminho, prometo que volto aqui e acendo uma luz em forma de post pra os que estiverem na estrada.
Estão todos convidados pra essa nova fase!
[CORTA]

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

É PAU, É PEDRA... É O FIM DO CAMINHO?

[GRAVANDO]
Sakineh... 
Um dia já se chamou Joana, provavelmente já teve nome em russo, hebraico, português, egípcio, persa, mandarim. Tradução simbólica? Reencarnação? Que nada! A palavra aqui é INTOLERÂNCIA. Arrisco dizer que esse é um dos nossos principais temas (da humanidade). Quando estudei História, ficava super impressionado com episódios "exóticos" que me chegavam de culturas mais distantes. Por lá, fazíamos um trabalho de entender o contexto, a cultura e de analisar os fatos sem se perder pelos caminhos "preconceituosos" de um olhar pós-moderno-ocidental. Na época, quanto mais próximo o "evento", mais difícil de se alcançar isso... essa tentativa de isenção. Fato constatado! A possibilidade de uma mulher iraniana ser morta por apedrejamento, por ter cometido adultério, vem provar essa teoria. Fiquei sim impressionado com a notícia. Abri mão de todas as "balelas" teóricas que giram em torno de si mesmas e que (em muitos casos) alimentam cupins em biblioteca, e pensei no que realmente importa: a tolerância com a diferença, com o nosso semelhante. Nesse caso, nós (ocidentais) nem temos muitos motivos pra achar o "causo" exótico. Os apedrejamentos por aqui são constantes: estão na violência urbana, nas mulheres agredidas pelos maridos, nas crianças vítimas de maus tratos, nos "paus", "pedras", "armas de fogo" e "matagais" que - para muitas pessoas - infelizmente representaram o "fim do caminho terreno". De minha inevitável matrix, enxergo uma possibilidade: o exercício de olhar pra dentro e, em cada situação, se colocar no lugar do outro. Imaginar como se sentiria se estivesse passando por determinada situação em outra posição no tabuleiro de xadrez. Difícil tarefa... seria preciso desconstruir tanta coisa que o resultado seria o medo. Não do "outro", não da "diferença", não do "exótico". Medo do EU, medo do espelho, medo do temerável "vilão" que teimamos esconder de nós mesmos...
[CORTA]

quinta-feira, 29 de julho de 2010

QUE AMORES TERMINAM NO ESCURO...

[GRAVANDO]
Ouvi dizer que o Canal Viva vai reprisar "Hilda Furacão", felicíssima adaptação de Glória Perez da obra de Roberto Drummond. A minissérie foi exibida em 1998 na Rede Globo e eu acompanhei cada detalhe, cada gesto, cada mudança dessa trama incrível. Quando ouvi da reprise, lembrei da primeira cena, que apresenta os três personagens: Roberto, narrador da história, queria fazer a revolução que mudasse o mundo. Aramel (o belo), queria ser astro de cinema e Malthus, queria ser santo, ia seguir a vida casta. Além da cidadezinha mineira fictícia de Santana dos Ferros, esses três jovens tinham em comum a palavra: sonho.
Naquela época, eu me identicava muito com o Malthus. Era católico fervoroso, praticante, "quase" santo (pelo menos aos olhos dos que me viam assim). Na verdade a santidade só existe do ponto de vista de quem a cria, no mais, tudo é profano, principalmente viver. No começo de minha juventude, tive uma fase meio Aramel. Fui estudar cinema, comecei a trabalhar em TV e me perdi nesse "estrelato", tudo era fantástico, tudo era magnífico, mas como toda boa ficção essa fase hoje só existe como registro em betacam de um passado importante (de vislumbre) que está muito bem arquivado em minha memória, com todo o respeito que o passado evoca. Também passei pelo Roberto. Achei num dado momento que eu podia mudar o mundo, as pessoas, adaptar as coisas a mim, ao meu querer, ao meu prazer, quem nunca se acometeu disso? Felizmente cheguei onde precisava nesse momento, acho! Numa personagem que era pano de fundo, mas que hoje faz todo sentido. Cheguei à Hilda, que no começo tinha sobrenome Muller (pomposo) mas que virou (e decidiu virar) Furacão! Pra isso, ela teve que abrir mão da casa de luxo dos pais, do casamento arranjado com um belo filho de fazendeiro, do não ter que trabalhar, teve que abrir mão da identidade medíocre que inventaram pra ela, mão de si mesma, da sua própria "sorte". Foi morar no Maravilhoso Hotel e se apresentava no Montanhês Dance. Conheceu a zona boêmia, experimentou no mais profano do sagrado um sabor que nem mesmo a fé de Malthus jamais conseguiu alcançar. Da sacada do Maravilhoso atingiu  fama invejável à Aramel e fez uma revolução em sua vida que, certamente, Roberto não teria coragem. Que o genial Drummond perdoe a intimidade com seus personagens, foi inevitável encontrá-los no caminho. Também conheci minha Madame Janete, a mística. Sentei frente a ela. Nunca a tinha visto, mas ela me conhecia desde criança olhando minha sorte. Lembrei que para Hilda foi dito: "Ninguém foge do seu destino, o que Deus risca, ninguém rabisca". Ainda não sei quem mais vou encontrar pelo caminho, que metamorfose é essa, e onde  tudo isso vai dar, mas... se o tal destino realmente não está em nossas mãos por completo, resta colocar a mão no leme (frase da minha mística) e remar com a força que se pode. Um dia chego ao Maravilhoso e ao Montanhês, quem sabe...
[CORTA]

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O QUE VOCÊ FEZ COM SEU ARQUIVO?

[GRAVANDO]
Acho que a TAG de começo do post nunca foi tão exata. Do momento em que passamos pela dolorosa experiência do parto, do nascer... é como se um forte "Gravando" fosse dito pra nós. Depois dele, cada sequência de vida, cada take, cada retake (pra quem se permite a eles) fica registrado em nossa película. A quem negue o que se viveu. Vã tentativa. Tá tudo lá... registrado num filme que não pode ser velado ao bel prazer. Seja em nome de Jesus, a quem tantos responsabilizam pela queima de arquivo, ou seja pelo Orgulho - também em letra maiúscula, acho! Perdoem, ele não costuma fazer parte do meu vocabulário. É uma palavra difícil de ser escrita na mesma intensidade que ser entendida.
Confesso que já nem me lembro o porquê da decisão de falar disso hoje, mas não se preocupem... embora eu não tenha acesso a todos os meus arquivos, essa parte da história também ficou gravada em algum lugar: no inconsciente, não sei. Aliás, talvez esse texto seja só uma revelação do que me tornei ao longo desses anos: um grande baú de memórias que faço questão de não esquecer. Como negar cenas e fatos que transformaram minhas alegrias e dores em experiência ou numa simples e crua constatação de inexperiência? Nesse exato momento, no ano passado, vivi algo que parecia a expressão máxima da felicidade de uma criança, e hoje, a criança ficou, não menos feliz, apenas menos... o que a fez mais diante de si mesma. Entre takes e retakes, a única coisa que levo dessa grande novela da vida é que a maneira como se lida com o passado, diz muito sobre o ser humano que se é. E ainda que esse muito seja um nada pra muita gente, o mais importante é a alegria de ter sido o mais verdadeiro possível, porque assim... não há de se ter vegonha do que se foi (ou é) nem do que se recordar.
[CORTA]

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O TAL OUTRO LADO DA HISTÓRIA

[GRAVANDO]
"Não..." essa definitivamente "não" é mais uma crônica futebolística. O que é? "Não" sei dizer... Se alguém descobrir no meio do caminho, por favor, avise. Pensando bem, "tevez" seja sim sobre futebol. Ops, ato falho! Ando com meu portunhol um tanto afiado esses tempos. O lance é o seguinte: enquanto a jabulani ainda rolava na África do Sul, embarquei pra Argentina. "Não..." (perdoa tantas negativas, mas elas ainda são necessárias) "não" estava me rebelando contra o Dunga, nem fazendo uma espécie de tour pelos possíveis ganhadores do mundial. Ainda bem que não... Bastou pisar em solo argentino pra notar que o destino deles tinha sido o mesmo da seleção brasileira. Pensando bem, acho que "não" foi bem assim. O que vi foi diferente do que se pinta e borda no Brasil com relação a eles. Vi um povo satisfeito com a campanha que a "equipo" realizou, respeitoso "não" só com a derrota argentina mas também com a "não" menos importante vitória da Alemanha, que fez um jogo fabuloso (dizem...). Se "não" me falha a memória que, futebolisticamente falando costuma ser péssima, o último título da Argentina em mundiais foi em 1986, mesmo ano em que ganhei a vida como prêmio. Prêmio? "não"! Prefiro dizer "empezo" de muitas dolorosas copas que ainda viriam. Como diria o (cala boca) Galvão: haja coração!!! Intimidades a parte, a tal "bicampeona" Argentina me surpreendeu com seu espírito esportivo e com a recepção calorosa à equipe, mesmo amargando 24 anos sem o tal "importante" grito de É CAMPEÃO. Uma situação bem diferente "não" só do que muitos brasileiros vendem como imagem dos hermanos, mas também da própria postura de muitos (talvez poucos, não sei) com relação a campanha brasileira na copa. Uma situação simples, que me fez lembrar um vídeo que assisti graças à amiga Carlinha Damasceno, que falava sobre a importância (essa sim verdadeiramente importante) de buscar sempre o outro lado da história, de não se contentar com o que é sabido, com o que é contado sobre algo. Depois de o assistir, passei "não" só a refletir mais sobre a diferença no outro, mas principalmente a respeitar a minha inexperiência em tantas coisas, das quais ainda somente conheço um lado (ou meio talvez). Sei que ando meio estremecido com "freddo" (ops, outra falha, esse, um delicioso sorvete que tomei na Argentina), queria dizer Freud e sua observação sobre a projeção que fazemos no outro baseados numa característica que, na verdade, é nossa. Te cuida Brasil! Saber respeitar uma perda e aprender com ela é, sem dúvida, uma belíssima medalha de ouro com direito a choro glorioso no pódio, mas essa aí - segundo Los Hermanos (não os argentinos, os brasileiros mesmo) - é mérito pessoal dos vencedores, os que são humanos, os que erram, os que são de verdade, de carne e osso!  
[CORTA]

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O DIA EM QUE FREUD SE DESPEDIU DE MIM...

[GRAVANDO]
Já era tarde. Confesso que a vida noturna sempre foi mais valiosa pra mim que o raiar do dia, que o nascer do sol. Nunca desconfiei desse talento que nasce da escuridão, dessa vida que funciona e que pulsa quando todos dormem, quando todos descansam. Dessa inquietude sombria que só a lua, a neblina, os travestis, os malfeitores e moradores de rua compreendem. Era mais uma noite. Não uma noite comum como aquelas que a gente toma banho, come, dorme, sonha... Era mais uma noite de pesadelo. O pesadelo de se reconhecer vazio, oco, sem referência, sem ter o que dizer... De reconhecer uma fraqueza e de não saber lidar com ela. É assim que eu me sinto hoje. Mas o que fazer quando de repente o tal argumento fica sem assunto? Quando a voz da afirmação se cala e resolve dar lugar a outra forma de discurso, tão ingênuo e paradoxalmente tão traiçoeiro que nem mesmo eu (a quem tantos elogiaram a vida toda pelos atributos oratórios) conseguira traduzir? Me calei, confessei o meu calar! Talvez tenha caído em mais uma armadilha da minha astuta neurose, que insiste em me fazer desconhecer, me afastar de mim, me encher de alguma coisa que faz o estômago doer, que faz as máscaras aparecerem assim como a aptidão para o palco. Um palco da vida onde por muitas vezes fui aplaudido de pé, enquanto meu corpo me vaiava, gritava por uma verdade cênica, ainda que fosse uma “minha” verdade. Pela primeira vez achei que estava encarando essa verdade. Vã ilusão. Fui convidado a deixar o divã, a procurar em mim mesmo a razão do meu calar, afinal de contas, como é possível alguém ter tamanha habilidade para cair de um penhasco e levantar aparentemente implacável? Talvez eu esperasse que alguém me enfrentasse a tal ponto de aos poucos reverter esse quadro. É quase uma experiência sobrenatural de alguém que desencarna repentinamente e precisa de um tempo pra entender que não é possível mais habitar em determinado plano, que as coisas mudaram, que a realidade mudou, que você mudou... ainda que isso não seja claro e perceptível. Precisava sim de alguém que me ajudasse a imergir nesse poço do auto-conhecimento porque no fundo passei a vida toda acreditando me conhecer como ninguém. Mas foi na primeira mágica experiência do amor, que o feitiço se quebrou. Não só o feitiço do amor perfeito, mas o feitiço do menino perfeito, implacável. Desencarnei hoje para a psicanálise. Fui desenganado enquanto sujeito de conflito, de incômodo, ganhei hoje a previsível medalha da acomodação. Passo por mais uma experiência de vida onde fui convidado a encarar sozinho a minha fragilidade. Talvez o não poder se calar é o preço que se paga por parecer tão forte, tão resistente, tão artificialmente preparado e tão raso. Pane no sistema! Até a próxima sessão... isso se minhas mãos e mentes robóticas desejarem o auto-desajuste.
[CORTA]

terça-feira, 11 de maio de 2010

CONTO DE FADAS?

[GRAVANDO]
Pode parecer clichê, mas não resisti ao trocadilho! Nunca imaginei que o tal anãozinho do final da fila do "Tchuim Tchuim Tchuim" fosse chegar a esse lugar de comoção nacional. De heroi a vilão, de mocinho a bandido, pouco a pouco a figura do técnico da seleção brasileira de futebol, Dunga, foi se assemelhando a do tal anão misterioso, mudo e sorridente. Hoje ele resolveu abrir a boca e, segundo os especialistas de plantão na arte da bola, surpreendeu! Os contos de fadas têm isso de peculiar, as vezes aquele elemento quietinho atua numa virada que define o rumo da trama. Pra dizer a verdade, não conheço metade das peças que foram convocadas para o mundial, mas como toda história esportiva - seja em qualquer modalidade - só saberemos se a nossa maçã foi envenenada por algum adversário depois que dermos as primeiras mordidas. Provavelmente estarei em casa saboreando essa fruta, ou alguém (por acaso) tem dúvida que a nossa pátria mãe gentil vai parar pra assistir esse filme?
[CORTA]

segunda-feira, 26 de abril de 2010

CLUBE DA CENA

[GRAVANDO]
Desde que fui assistir "Vau da Sarapalha", no ano passado, não havia vivido esse fenômeno de quase não conseguir entrar no teatro de tão lotado. Acabei no chão, disputando um lugarzinho pra ver o resultado de mais uma semana de apresentações do Clube da Cena, um coletivo de 06 dramaturgos, 06 diretores, 26 atores e 01 músico que a cada semana apresentam esquetes baseadas em manchetes de jornal. O resultado é exótico... Dá de tudo! Desde textos muito bacanas até aqueles que, claramente, foram "salvos" graças aos esforços do diretor e do elenco. Achei a ideia muito interessante e o saldo positivo. Uma ótima oportunidade de conhecer talentos de todas as áreas do nosso teatro. Na próxima sexta acontece a última apresentação da temporada no Planetário da Gávea no Rio de Janeiro. E como as notícias se atualizam a cada semana, tô até pensando em ir lá novamente.
[CORTA]

VIAJAR PERDER PAÍSES!

[GRAVANDO]
Pegando carona na onda Chico Xavier do momento, provavelmente algum episódio de vidas passadas deve explicar o medo que eu tenho de viajar de avião. Sim! Embora as estatísticas sejam favoráveis, toda vez que eu embarco é como se estivesse vivendo a grande aventura da minha vida. Apesar disso, que remédio? Viajar é ou não é uma das coisas mais encantadoras que existem? Em prosa e verso, Fernando Pessoa já cantou a beleza de "ser outro constantemente". Impossível não embarcar! Essa semana fui convidado a fazer uma viagem por aqui mesmo... pela cidade maravilhosa. Minha amiga jornalista Tatiana Escosteguy, que mora em Curitiba, pediu que eu indicasse algum lugar do Rio de Janeiro que merece ser visitado para divulgar num site de intercâmbios. Quem conhece a cidade, deve imaginar o quão difícil foi minha tarefa, justamente porque há muitos lugares que contribuem para esse lindo cartão postal. A dica está em:
[CORTA]

segunda-feira, 19 de abril de 2010

LONGE DE CASA...

[GRAVANDO]
Com certeza estou bem longe dos dois passos que, supostamente, levam ao paraíso. Pelo contrário, quanto mais a roda gigante da vida se movimenta eu percebo que o paraíso fica aqui, dentro de nós, quando conseguimos admitir as revoluções por minuto que acontecem sem parar. A grande verdade é que no balanço das horas tudo pode mudar e nem vou dizer que é preciso estar pronto... as vezes a sabedoria está em compreender que a mudança é fruto de um longo processo com fases que (com o perdão do trocadilho infame) fazem muita gente cantar "geme geme" até sem perceber. Referências 80's a parte, no último fim de semana fui ao show da Blitz. Não aquele grupo que embalava o Brasil há 20 anos. O tempo passou e a mudança foi inevitável! Mas entre uma música e outra lembrei de tanta coisa que já se transformou na minha vida. Ao som de "A dois passos do paraíso" fui a Miracema do Norte, tomei um café com a Mariposa Apaixonada (prometi que guardaria a sete chaves sua verdadeira identidade) e até tive a sensação de ter visto um cara muito parecido com o famoso Arlindo Orlando. Quando voltei pro Lapa 40º, onde aconteceu o show, fiquei feliz por estar ali... talvez algo estivesse se transformando naquele momento. A única certeza é que a mudança uma hora vem... seja sob o sol ou debaixo de chuva!
[CORTA]

UM LUGAR CHAMADO... "HAMELIN"

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Ultimamente os mais próximos tem visto um fenômeno acontecer comigo. Uma paixão pela psicanálise que nem mesmo Freud é capaz de explicar a origem. Ontem estive no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, para assistir ao badalado espetáculo "Hamelin". Motivos não faltaram para estar lá: boa companhia, texto adaptado, elenco afinado e assunto ligado a mente humana.
Confesso que o texto de teatro é um desafio pra mim. Minha formação em cinema e minha experiência em TV talvez tenham criado uma relação de espaço e tempo na minha cabeça que a experiência teatral desconstroi pela impossibilidade do corte. Aliás, em se tratando de Hamelin, qualquer corte pode ser decisivo. A peça fala sobre uma suposta rede de pedofilia liderada por um respeitado membro da sociedade, mas como pano de fundo, traz à tona a difícil relação entre pais e filhos. Monteiro - investigador do caso - parece muito convicto em solucionar o quebra-cabeças, mas por outro lado apresenta uma dificuldade terrível em lidar com os crescentes problemas de seu filho. Se mostra um pai ausente e um marido desinteressado. Uma história comum? Que nada! E se tudo não passar da fantasia da única criança que depõe contra o acusado? E se o acusado realmente tem culpa no cartório? E se tudo se resumir à vaidade de Monteiro em possivelmente solucionar um grande caso? Enfim! O autor coloca o controle remoto nas mãos do espectador. O final é pessoal e intransferível. Parabéns pra toda equipe por esse trabalho!
[CORTA]

segunda-feira, 12 de abril de 2010

RELAÇÕES: UMA PEÇA QUASE ROMÂNTICA

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Fato! Relações: uma peça quase romântica foi o espetáculo que eu mais assisti nos últimos tempos. E o mais engraçado é que, apesar disso, a cada nova apresentação eu me divertia como se estivesse assistindo pela primeira vez... e não pensem que isso se deve a qualquer espécie de perda de memória recente ou pouco critério de humor. O maravilhoso elenco usa e abusa do texto e se encarrega de provocar esse clima. São eles: Anderson Cunha, Cecília Hoeltz, Marcio Machado e, minha amiga, Fernanda Baronne. A peça traz cenas independentes sobre relacionamento criadas a partir do que há de mais clichê nas juras de amor, nas infidelidades, nas expectativas e nas crises amorosas. No fundo (risadas a parte) ela expõe o quanto o ser humano é carente nesse lugar. O quanto somos capazes de, as vezes, prometer o impossível de ser cumprido ou ainda negociar o que é impossível ser negociado só pra não ficar "sozinho". Quer conferir? Basta ir ao Teatro Café Pequeno na Avenida Ataulfo de Paiva (em frente ao Rio Design Leblon) as sextas e sábados a partir das 21h30 e aos domingos às 20h.
Nem preciso dizer que eu recomendo muito né?
[CORTA]

sexta-feira, 9 de abril de 2010

EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA...

[GRAVANDO]
Ufa! Sobrevivi... Cheguei a pensar que esse blog seria o único registro da minha existência terrena para a posteridade. Nunca quis acreditar nessa história de fim do mundo, mas essa semana aqui no Rio de Janeiro estive bem perto do Apocalipse: chuvas, alagamentos, pessoas desabrigadas, mortes... nossa! Impossível não comentar. Uma coisa é certa! Apesar de não querer acreditar no fim dos tempos, um lugar que eu sempre quis conhecer foi a tal terra do nunca de que tanto se fala. Ela já foi tema de história clássica da literatura, do cinema e já serviu até de refúgio para astro pop. Sorte de quem conheceu esse lugar, onde provavelmente não há enchentes, dor ou despedidas indesejadas. Pensando bem, acho que eu abriria mão do passaporte pra lá... Geralmente o preço que se paga pela sensação de que tudo é perfeito é alto demais pra nós reles mortais. O mundo pode ter cores, mas há dias que realmente são medidos em escala de cinza. É lamentável que no mundo real aconteçam eventos como o que atingiu o Rio de Janeiro, mas imperdoável é não aproveitar experiências como essa para tentar se tornar um ser humano melhor... ainda que seja pra se preparar pro Apocalipse.
[CORTA]

quinta-feira, 1 de abril de 2010

ARRIBA VA... EL MUNDO ESTÁ DE PIE!

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Embora eu seja um apaixonado confesso pelos jogos olímpicos e nem goste tanto assim de futebol, uma coisa não dá pra negar: ano de copa do mundo costuma ser histórico! Em 98, o ídolo pop latino Ricky Martin realizou o sonho de cantar na abertura da copa. Esse ano, ele provavelmente não retornará aos palcos para abrir a competição, mas novamente realiza um sonho: o da liberdade de poder ser quem realmente é. Assumir a homossexualidade é tarefa difícil pra muitos por diversas questões: família, posição profissional, medo de não ter apoio dos "amigos" (mesmo quando a gente sabe que os amigos de verdade não costumam ligar pra isso), e por ai vai... poderia listar milhões de motivos pra justificar uma permanência no armário.
A verdade é que tem que ser muito macho pra bater no peito e encarar tudo isso: privilégio de poucos! Admiro Ricky que tomou essa decisão mesmo quando o preço a pagar é uma exposição internacional. Arriba va... el mundo está de pie para aplaudir a coragem desse rapaz!
[CORTA]

quarta-feira, 31 de março de 2010

SAVANA GLACIAL

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"Talvez o momento ainda não seja propício pra assistir a um espetáculo que fala de relacionamento", pensei! Mesmo assim fui, encarei e percebi que estava completamente enganado! Ainda bem.
O texto da peça Savana Glacial é assinado por Jô Bilac, um jovem dramaturgo de quem estou aprendendo a ser fã cada vez que vou ao teatro. No elenco, dois amigos que dispensam apresentações: Renato Livera e Camila Gama (foto), que também são idealizadores do projeto, além de Andreza Bittencourt e Diogo Cardoso.
Lindo trabalho e muita sutileza pra representar um jogo de amor que se forma a partir da perda de memória constante de uma personagem. Verdade? Mentira? Realidade? Ficção? Tudo junto numa trama que usa e abusa das relações espaço-temporais e da composição psico-corporal dos personagens, pontuadas por um sincronizado jogo de iluminação e sonorização. Então, se tiver oportunidade, assista!
[CORTA]

24x19

[GRAVANDO]
O título pode parecer estranho, mas quem me conhece sabe que 24x19 é um jargão comum pra falar de grandes viradas. Pra quem não pescou, eis uma breve explicação. Nas olimpíadas de Atenas em 2004, a seleção feminina de vôlei chegou a estar com esse exato placar no 4º set e precisava virar somente uma bola para chegar a grande final. O que aconteceu? Bola pra fora, bloqueio da Rússia, erros e mais erros...
Ontem assisti a final do BBB 10 e confesso que, embora inicialmente não tivesse problemas com Marcelo Dourado, torci pra que algo diferente acontecesse. Durante a semana, uma discussão acalorada tomou conta de muitos espaços que eu frequentei: li uma crônica de Jean Willis, ouvi alguns amigos, pensei sobre o assunto e ontem quando Pedro Bial anunciou o vencedor lembrei do tal jogo de 2004. Ironicamente, nesse caso, Dourado fez jus ao nome e subiu ao lugar mais alto do pódio com 60% dos votos, apesar de também ter mandado algumas bolas pra fora, de ter sido "bloqueado" pela opinião pública por expressar preconceito contra os gays e de ter cometido alguns erros a respeito das formas de contágio do HIV. Claro que não vou cair na armadilha comum de atirar pedras contra o Dourado, eis o meu 24x19, até porque conheço muita gente bacana que gosta dele por outros motivos. O que me chama atenção com essa vitória é o "fortalecimento" de algumas figuras a quem essa persona representa: bad boys homofóbicos ou ainda alguns personagens que vendem a imagem do não preconceito, mas que jamais aceitariam ter um filho gay, por exemplo. É desses que eu tenho medo!
Mas, se querer é poder, como diz a música do RPM, eis a decisão da maioria para eleição do "Grande Irmão do Brasil".
[CORTA]

quinta-feira, 18 de março de 2010

VOLTEI A CANTAR PORQUE SENTI SAUDADE!

[GRAVANDO]
O título que remete a uma das canções do grande mestre Chico Buarque não é mera coincidência! Ele resume a falta que senti de estar aqui traduzindo as minhas emoções e impressões em palavras. Andei meio sumido, confesso, mas a data do último post diz muito sobre um tal conturbado segundo semestre de 2009 que vivi. Entre gastrites, crises emocionais e um (naquele momento) lastimável fim de casamento, não sobrou espaço para a poesia. Tudo era cinza, tudo era névoa, tudo era dor. Meu retorno pra cá, não podia ser só entre teclas e dedos... não sei fazer nada pela metade, não consigo, essa é minha alma, que bom! Talvez por isso tenha sido tão difícil entender um fim, um vazio que - na verdade - sempre existiu e sempre existirá porque ele simplesmente não pode ser preenchido por nada e nem por ninguém. Essa é uma das dores e delícias da vida que podem e são, como diria o poeta, cantadas em sustenidos e bemois.
Enfim, tarde demais! O fato é que eu voltei a cantar porque senti saudade, mas não aquela saudade melancólica do que já passou. A saudade era de me ver de novo por aqui, por ali, por acolá, fazendo hora, fazendo fila, mambembe, cigano...
[CORTA]